terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"AS DANAÇÕES DO COMPADRE ZÉ"

As danações do compadre Zé.


(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.


Zé Povinho se considera uma besta. Embora seja um cara instruído, leitor inveterado, se classifica politicamente falando, como uma besta. Para completar o quadro, uma besta quadrada.

1)
Ele não entende, por exemplo, por qual motivo a mídia escrita, falada e televisada dispensou tanta atenção e se esmerou em promover, com estapafúrdio alarde, o câncer da Sra. Dilma Rousseff, exatamente quando um número enorme de brasileiros, todo santo dia, de canto a canto deste Brasil imenso chega a óbito nos corredores dos hospitais da rede pública, por absoluta falta de recursos. Zé Povinho não compreende porque a Sra Dilma, para fazer uma bateria de exames tidos como “rotineiros” necessitou de mais de uma dezena de hematologistas e oncologistas, sem contar os trocentos seguranças na porta do hospital particular, ao contrário do trabalhador honesto, para sobreviver nesse país de filhos da puta, não sabe o que é um hematologista, ou um oncologista, e pior, desconhece a porra da segurança, ou melhor, ignora o que lhe possa vir a suceder, a partir do momento em que coloca os pés fora do aconchego de sua casa. Zé Povinho fica indignado em saber que, enquanto o câncer da maldita Dilma faz dela uma “coitadinha”, uma infeliz, quem precisa do remédio para tratar do mesmo mal que definha suas entranhas, se não quiser se foder mais cedo, e parar na cidade dos pés juntos, terá que desembolsar por um frasco do Mab Thera (remédio que prolonga a vida do paciente dando-lhe maior possibilidade de sobrevida) 8.000 reais, quando o certo seria o governo vender esse medicamento a preço que qualquer necessitado pudesse ter acesso. E Zé pergunta, com a sua cara de babaca – o semblante carregado de insatisfações: por que essa maldita ministra não aproveitou o seu mal, e, na ancora do seu câncer eleitoreiro - ao invés de fazer propaganda para uso próprio, querendo se promover, visando o poder, por que, ao invés disso, não lançou uma campanha em rede nacional, para que os mais de 10.000 pacientes que sofrem do mesmo problema pudessem gozar, através da aquisição do tal Mab Thera, a esperança de viver um pouquinho mais?

2)
Outro fato que deixou Zé Povinho enfurecido, pê da vida. O bate boca dos ministros Joaquim Barbosa e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Barbosa disse ao colega que ele “estava destruindo a credibilidade do judiciário brasileiro” e que deveria saber que “não estava falando com os capangas dele do Mato Grosso”. Ora, minha gente, Zé Povinho pode ser uma besta, mas burro, não. Realmente concordamos com ele. O judiciário brasileiro é uma caixa preta, um embornal de gatos famintos, um barril de pólvora prestes a explodir. Uma espécie de saco, onde os poderosos depositam seus excrementos e nos obrigam a carregar nas costas. No meio dessa confusão toda, o que incomoda o Zé e ultimamente vem lhe tirando o sono: os capangas do Mato Grosso! Deveríamos estar igualmente incomodados com isso? Ser solidário a esse brasileiro porreta? Zé Povinho não entende muito de palavras difíceis, não manja de termos rebuscados. Todavia, está sério, bastante pensativo, deveras acuado, procurando mastigar, digerir de uma vez por todas com essa história dos capangas, tirando tudo em pratos limpos. Seriam esses capangas do Mato Grosso?... Algum prato novo que os poderosos vão nos enfiar goela abaixo????

3)
Preocupado com a gripe suína, Zé Povinho também tem a sua opinião formada. Ele acha que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão deveria, antes de se apresentar na televisão para falar em público e tratar de um assunto tão delicado, colocar, na cara, uma máscara de porco. Assim, as pessoas iriam se acostumando a ver os suínos e outros membros da família com olhos mais amenos. Em paralelo, ao invés de dizer que os supostos “infectados” passam bem, o ilustre ministro precisaria colocar no mercado, em caráter de urgência, uma cartilha com os principais tópicos da doença, grosso modo, ensinar a galera a chafurdar no lamaçal do SUS (Sistema Único de Safados), a partir do momento em que a coisa se agravar de verdade e a mentira que ronda pelo ar, virar epidemia de fato. Como os horários políticos se faz necessário promover uma lavagem cerebral nessa grande massa de embasbacados, que, aliás, não enxergam um passo adiante do nariz.

(*) Aparecido Raimundo de Souza é jornalista
Outros textos do mesmo autor podem ser vistos no "Google" ou no site:
www.paralerepensar.com.br