segunda-feira, 24 de maio de 2010

EM TUDO O QUE FAZEMOS NESTA VIDA SEMPRE HAVERÁ DE COMEÇAR PELA PRIMEIRA VEZ.


(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.


Em Mogi das Cruzes, São Paulo, existe um jornal de grande circulação, chamado “O Diário” que abrande várias cidades, como Suzano, Estudantes e Ferraz de Vasconcelos, entre outras. Numa de suas edições, ou mais precisamente no dia 6 de abril deste ano, na coluna “Caderno A”, do meu amigo e companheiro Chico Ornellas, grande jornalista e também membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, ele fez publicar, a preciosidade que abaixo faço transcrever, na íntegra. Tive o cuidado de mandar para o Ornellas um e-mail indagando se o texto era de sua lavra, ou não, e, se a resposta fosse negativa, se o prezado saberia declinar o nome do verdadeiro autor. Mas o meu amigo Chico, ocupado, como sempre, não me respondeu. Uma pena. Dessa forma, como achei o conteúdo do trabalho muito interessante e, mais que isso, de profundo cunho psicológico, resolvi publicar, até porque, além da simplicidade contida no texto, ele se torna denso e ao mesmo tempo meditativo. Nos leva a parar e a refletir um pouco mais sobre a nossa primeira vez. Em tudo o que fazemos, nessa vida, há sempre a primeira vez. Me perdoe, velho Chico, se não esperei por sua autorização; mil desculpas por não ter insistido com você, num outro e-mail, ou telefonado para a redação. Quero que entenda que o texto me tocou tão dentro da alma, que resolvi correr, pela primeira vez, o risco do colega brigar comigo pela primeira vez; zangar comigo pela primeira vez; me processar pela primeira vez; enfim, pela primeira vez; acho que o meu público, como o seu, tem o direito de compartilhar de momentos bons, de palavras lindas e alentadoras, como as contidas nesse trabalho. Mande notícias, meu velho. Ai vai, portanto, amigo Chico, em sua homenagem, e em nome da nossa amizade, o magnânimo e literalmente perfeito “QUAL A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ FEZ ALGO PELA PRIMEIRA VEZ?”. Em especial dedico a todos os meus leitores.

Eu nasci pela primeira vez...

Eu falei pela primeira vez, eu andei pela primeira vez, eu corri pela primeira vez; eu caí pela primeira vez; eu namorei pela primeira vez; eu casei pela primeira vez; eu briguei pela primeira vez; eu beijei pela primeira vez; eu assinei um cheque pela primeira vez; eu tive um cheque recusado pela primeira vez; eu tive um titulo protestado pela primeira vez; eu tive um amigo importante pela primeira vez; eu fui importante por um minuto pela primeira vez; eu comprei a credito na Casa Bahia pela primeira vez; eu viajei de avião pela primeira vez; eu fui de subúrbio para São Paulo pela primeira vez; eu subi ao topo do Empire State Building pela primeira vez; eu vi as luzes de Paris pela primeira vez; eu assisti a um show da Brodway pela primeira vez; eu fui ao Museu do Ipiranga pela primeira vez; eu cumprimentei Pietro Maria Bardi pela primeira vez; eu votei em Junji Abe pela primeira vez; eu fumei um cigarro pela primeira vez; eu me apaixonei pela primeira vez; eu recebi um salário pela primeira vez; eu fui demitido pela primeira vez; eu fui promovido pela primeira vez; eu andei de bicicleta pela primeira vez; eu atravessei o Atlântico pela primeira vez; eu paguei um sepultamento pela primeira vez; eu assinei um jornal pela primeira vez; eu tive uma relação sexual pela primeira vez; eu atravessei o Canal da Mancha de trem pela primeira vez; eu andei nas balsas do Guarujá pela primeira vez; eu fui a Niterói de balsa pela primeira vez; eu xinguei o programa do Faustão pela primeira vez; eu assisti “E o Vento Levou” pela primeira vez; eu dirigi um carro pela primeira vez; eu levei uma multa pela primeira vez; eu desobedeci meu pai pela primeira vez; eu fui ao cinema pela primeira vez; eu fui ao teatro pela primeira vez; eu fui a zona pela primeira vez; eu assisti a um strip tease pela primeira vez; eu comi um Bife Esquisito pela primeira vez; eu tomei um porre pela primeira vez; eu fui à praia pela primeira vez; eu vi o mar pela primeira vez; eu namorei em Paquetá pela primeira vez; eu visitei a Cruz do Século pela primeira vez; eu fui a Sabaúna pela primeira vez; eu dancei ao som de Conniff pela primeira vez; eu cantei uma música de Chico Buarque pela primeira vez; eu assobiei o tema de “A Ponte do Rio Kwai” pela primeira vez; eu desfilei em uma escola de samba pela primeira vez; eu subi no Pão de Açúcar pela primeira vez; eu tomei uma caipirinha pela primeira vez; eu torci pelo Corinthians pela primeira vez; eu decidir torcer pelo Corinthians pela primeira vez; eu iniciei um regime pela primeira vez; eu parei de fumar pela primeira vez; eu briguei com um filho pela primeira vez; eu tive uma diarréia no aniversário do sogro pela primeira vez; eu passei de ano pela primeira vez; eu fui reprovado pela primeira vez; eu entrei na faculdade pela primeira vez; eu tive meu emprego pela primeira vez; eu perdi uma namorada pela primeira vez; eu discuti no trânsito pela primeira vez; eu comemorei a vitória do Brasil na Copa do Mundo pela primeira vez; eu chorei a derrota do Brasil na Copa do Mundo pela primeira vez; eu dormi em Roma pela primeira vez; eu acordei em Venesa pela primeira vez; eu tomei cerveja em frente a Catedral de Colonia pela primeira vez; eu comunguei pela primeira vez; eu rezei por São Longuinho pela primeira vez; eu fiz xixi no Hyde Park em Londres pela primeira vez; eu acertei meu relógio pelo Big Bem pela primeira vez; eu torci numa Braz-Col pela primeira vez; eu sai na fanfarra do Liceu Braz Cubas pela primeira vez; eu arranquei um dente pela primeira vez; eu colei na prova de matemática pela primeira vez; eu tomei um uísque sem gelo no La Lícornepela primeira vez; eu reclamei da cerveja quente na Sula pela primeira vez; eu saí na coluna do Mutso Yozhizawa pela primeira vez; eu paguei entrada inteira no cinema pela primeira vez; eu paguei meia entrada de idoso no teatro pela primeira vez; eu marquei encontro na porta do Mappin pela primeira vez; eu fiquei sabendo que papai Noel não existe pela primeira vez; eu acordei domingo pensando que era segunda feira pela primeira vez; eu sonhei que era neozelandez pela primeira vez; eu tomei vacina no consultório do doutor Zenon pela primeira vez; eu peguei uma gripe pela primeira vez; eu tive dor de cabeça pela primeira vez; eu fiquei devendo na padaria pela primeira vez; eu engasguei com espinho de peixe pela primeira vez; eu dei topada na calçada pela primeira vez; eu martelei o dedo pela primeira vez; eu comi caviar pela primeira vez; eu comunguei em Aparecida pela primeira vez; eu bati com a cabeça no poste pela primeira vez; eu comprei um carro pela primeira vez; eu paguei a conta do restaurante pela primeira vez; eu fui hospede do Copacabana Palace pela primeira vez; eu pesquei no Rio Paraguai pela primeira vez; eu pulei no rancho do Náutico pela primeira vez; eu chamei o Carlito de “ceguinho” pela primeira vez; eu confessei com o padre Roque pela primeira vez; eu troquei pneu de meu carro pela primeira vez; eu vendi um carro pela primeira vez; eu sujei na cueca pela primeira vez; eu passei pelo Cemitério de Paraibuna pela primeira vez; eu dormi no Hotel Binder pela primeira vez; eu fui de trem para Aquidauana pela primeira vez; eu subi na cabeça da Estátua da Liberdade pela primeira vez; eu arrematei um boné em um leilão de Wichita pela primeira vez; eu namorei no trem de Madri a Paris pela primeira vez; eu fui pai pela primeira vez; eu fui avô pela primeira vez.

Eu morri pela primeira vez...

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 57 anos é jornalista .
e-mail para contatos: aparecidoraimundodesouza@gmail.om

domingo, 9 de maio de 2010

Mae

Mãe
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza
(Minha mãe, para mim, é e sempre será o Maior Amor Espiritual (Caderno de Segredos).

Hoje desfilam aqui poetas de todos os cantos do Brasil que homenagearam as suas mães. Vamos começar pela encantadora Silviah Carvalho (de Curitiba, no Paraná) que escreveu estas palavras simples, mas de significado profundo para a Autora de seus dias:
“... Mãe, nome semelhante ao amor,
um “erre” a mais, um “til” que sobrou,
hoje no seu dia, todos se levantam para uma homenagem;
mas poucos, na verdade, lhe direcionam o merecido valor,
como o vento sibilando nas folhas em cálida aragem...

Seu amor, Mãe, é universal – não existe nada igual.
Defende sua prole pondo em risco a própria vida,
ao tempo que nutre um sentimento diferente - chega a ser magistral.
Nos seus braços nenhum filho deixa de ter guarida
e aquele carinho do fundo da alma – único, especial.

Mãe de muitas mães – igualmente querida,
todo dia deveria ser seu, porque nos legou a vida...
E, junto, o respeito, a obediência, o amor e cuidado.
Para nós, seus filhos, o melhor tesouro guardado,
Não deveria, jamais, permanecer no tempo, esquecida.

Sua nobreza – vejo estampado em seu semblante,
sei que o seu amor é acima de tudo mais importante.
Não importa aonde cada um de nós esteja como eu, agora, afastada, distante,
Mas sei - me sente aí, como se estivesse ao seu lado!

Ainda que por todos incompreendida,
Maltratada pela vida e também por quem gerou,
Seu coração grandioso o perdão sempre espalhou...
Ah, mãe, se não fosse por você, o que seria da nossa lida?

Deixo aqui, mãe amada, estas palavras simples, como uma canção,
da sua filha (e dos demais), ainda que não esteja ninguém sentado à sua volta.
Amor, mãe, nem sempre é se fazer presente – ou melhor é se sentir ausente, carente...
Vivendo esse agora nas batidas descompassadas do seu coração:
no fundo, mãezinha fica mais forte e pujante, o calor da emoção!...”;
Esta poesia pode ser vista em “Recanto das letras” (www.silviah.net).

***

A baiana Neuzamaria Kerner também se faz presente e verseja:
“... Ao nascer
a mãe o recebe nos braços
e lhe é dito:
- Tome, é teu, mas cuidado que vôa!
A mãe abrirá os braços
o cobrirá com abraços
e suas asas crescerão.
O menino passarinho passará a pássaro adulto
e voará,
mesmo sem salvo conduto.
Pensará que é pássaro-gigante e
dono do mundo quer se tornar.
Continuará voando
aquém e além dos mares
sozinho ou em pares
e a mãe sempre o aguardando
sempre orando em sua solidão
sem saber se seu passarinho
voltará um dia, ou não”
(do livro “Fragmentos de Cristal” Neuzamaria Kerner).

***

“Optar por um filho é decidir em dado momento ter o seu coração caminhando fora do corpo para sempre”.
(Elisabeth Stone citada por David Cruz Vitória Espírito Santo, em seu livro Fragmentos – Crônicas e
Sonetos).

**

Ser mãe
1
Quando todos te condenarem
quando ninguém te escutar,
ela te escuta e perdoa,
por ser mãe – é perdoar!

2

Quando todos te abandonarem
e ninguém te queira ver,
ela te segue e procura
pois ser mãe – é compreender!

3

Quando todos te negarem
um pão, um beijo, um olhar,
ela te ampara e acarinha
por ser mãe – sempre é se dar!
(José Guilherme de Araujo Jorge, do Estado do Acre)

***

Mãe
A oração que eu rezo,
todos os dias,
ao acordar...

Suave
presença,
idílio constante,
no meu caminhar...

Mãe,
minha estrela guia,
a maior alegria
meu doce sonhar!...

Meu futuro,
meu agora,
minha luz brilhante no escuro,
meu anjo eterno, a me guiar

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 57 anos, é jornalista

sábado, 13 de fevereiro de 2010

"A ASTÚCIA DO CACHORRO"

A Astúcia do cachorro

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza

No tempo em que os animais falavam, conta uma lenda que um cachorro estava no meio da floresta, se banqueteando com restos de ossos, quando, atrás dele, uma onça faminta, de garfinho, faca e guardanapo no pescoço, se preparou para dar o bote. Pressentindo que iria virar almoço, o coitado, mais que depressa, pensou rapidamente numa saída. Assim, sem se virar gritou o mais alto que pode:
- HUMM!... QUE ONÇA DELICIOSA ACABEI DE DEVORAR...
Ouvindo essas palavras, a onça se assustou. Ato contínuo abortou o pulo pretendido, deu meia volta e saiu correndo, só parando alguns quilômetros depois, exausta, à beira de um riacho de águas cristalinas:
- Escapei por pouco, daquele cachorro!...
Entretanto, do alto de um pé de jequitiba um sem vergonha de um macaco assanhado assistiu a tudo. Dando uma de fofoqueiro, correu a contar sobre o golpe do cachorro:
- Então é isso?
- Sem tirar nem por...
- Pois ele me paga!... Venha atrás de mim e veja o que faço com quem tenta me passar a perna.
Fula da vida e babando de raiva, a onça mais que depressa empreendeu o regresso ao local levando o primata a tiracolo. Como se esperasse pelo retorno da inimiga, o cachorro, sem pensar duas vezes e, vendo a difícil situação em que se achava metido, não perdeu a esportiva e jogou a derradeira carta que lhe restava ao alcance das patas. Ou salvava a pele, ou virava, de uma vez, o prato principal da furiosa ferina, aliás, de presas afiadas, e com o sangue a aflorar a pele pintada. Sem se mexer, e ao menos se virar para o casal que estancou a poucos passos de seu rabo (podia até sentir o hálito quente dos dois), berrou com todas as forças que conseguiu reunir no fundo da garganta:
- CADÊ AQUELE MALDITO MACACO? JÁ FAZ MAIS DE MEIA HORA QUE MANDEI O SAFADO BUSCAR OUTRA ONÇA E ATÉ AGORA, NEM SINAL DO DESGRAÇADO. VOU SAIR À CATA DELE, AGORA!
Ouvindo essas palavras, o macaco que seguia a onça tratou de dar o fora trepando na primeira árvore que avistou pela frente. Na subida esqueceu algumas bananas que trazia para o almoço.
A onça, sem ação, fez o mesmo. Empreendeu meia volta, às carreiras e se embrenhou na mata virgem, deixando o cachorro às voltas com um largo sorriso de satisfação entre os dentes.
MORAL DA HISTORIA. Às vezes mais vale um pensamento rápido que a fome de mil onças.

"UM ZERO DOIS"

Um zero dois

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza

Puto da Vida pega o telefone e disca para o 102 serviço de informações. Na quarta tocada uma voz educada cumprimenta o interlocutor.
Voz:
- “Boa tarde. Bem vindo ao um zero dois. Para telefone comercial, digite dois, para demais solicitações, digite três”.
Puto da Vida opta pelo número dois.
Voz:
- “Por favor, fale a cidade desejada”.
Puto da Vida:
- Carapicuíba.
Voz:
- “Entendi. Carapicuíba. Fale se está correto ou não”.
Puto da Vida:
- Correto.
Voz:
- “Agora fale apenas o nome que deseja consultar”:
Puto da Vida:
- Cincinato das Flores Perobino.
Voz:
- “Entendi. Cincinato das Flores Perobino. Fale se está correto ou não”.
Puto da Vida:
- Correto.
Voz:
- “Após ouvir a informação... Pi, pi, pi, pi, pi, pi...”
Puto da Vida solta um impropério a se ver, de repente, com a ligação interrompida. Reinicia a operação. Desta vez, dá mais sorte. A secretária atende de imediato.
Voz:
- “Boa tarde. Bem vindo ao um zero dois. Para telefone comercial, digite dois, para demais solicitações, digite três”.
Puto da Vida tecla o número dois.
Voz:
- “Por favor, fale a cidade desejada”.
Puto da Vida.
- Carapicuíba.
Voz:
- “Entendi. Carapicuíba. Fale se está correto ou não”.
Puto da Vida:
- Correto.
Voz:
- “Agora fale apenas o nome que deseja consultar”.
Puto da Vida:
- Cincinato das Flores Perobino.
Voz:
- “Entendi. Cincinato das Flores Perobino. Fale se está correto ou não”.
Puto da Vida:
- Correto.
Voz:
- “Após ouvir a... Pi, pi, pi, pi, pi, pi...”
Puto da Vida quase quebra o auscultador ao bater com ele sobre o descanso. Parece uma fera enjaulada. Sabe, de antemão, que precisa repetir de novo, passo a passo, o esquema.
Puto da Vida:
- Eu mereço. Devo ter cuspido da Cruz de Cristo.
Voz:
- “Boa tarde. Bem vindo ao um zero dois. Para telefone comercial, digite dois, para demais solicitações, digite três”.
Puto da Vida, impaciente, pressiona o número correspondente a informação pretendida. Contudo, como nas vezes anteriores, após declinar o nome desejado, o mecanismo desarma e a voz da máquina se faz ouvir seguida do insistente e lacônico pi, pi, pi, pi, pi, pi. Evidentemente essa intromissão sem motivos aparentes contribui para o estresse do rapaz, culminando por deixá-lo com uma enxurrada de palavrões à flor da língua. Duro na queda, entretanto, não pretende desistir ou dar o braço a torcer. Decidido, se agarra ao telefone, e, nessa afoiteza, disca mais uma vez. Nesse chove não molha, as tentativas acabam frustradas e chegam a dez, quinze, vinte vezes, sem que o objetivo principal seja alcançado satisfatoriamente. A voz mecanizada do serviço é unamine e segue sem problemas, até o instante do “Entendi. Cincinato das Flores Perobinha”. Contudo, antes que Puto da Vida sinalize o OK repetindo o “Correto”, a ligação é sumariamente cessada. Parece brincadeira de mau gosto. Mas não é. Puto da Vida, encolerizado, sobe pelas paredes. Literalmente. Por momentos pensa atirar longe o telefone. Porém, teimoso como uma mula, não entrega os pontos. Volta à carga.
Voz:
- “Boa tarde. Bem vindo ao um zero dois. Para telefone comercial, digite dois, para demais solicitações, digite três”.
Puto da Vida, prá lá de puto da vida.
- Casa do caralho.
Voz:
- “Entendi. Creto. Fale se está correto ou não”.
Puto da Vida:
- Não. Eu disse casa do caralho.
Voz:
- “Qual o nome que você disse?”
Puto da Vida:
- Piranha, vá tomar no seu cu.
Voz:
-“Fale o nome que deseja consultar”.
Puto da Vida:
- Já disse. Desejo consultar a boceta da sua mãe.
Voz:
- “Por favor, fale a cidade desejada”.
Puto da Vida:
- Pica dura.
Voz:
- “Desculpe, fale novamente a cidade desejada”.
Puto da Vida completamente fora de si, acaba por desferir uma série de porradas na mesinha do telefone:
- Pica dura na sua bunda.
Voz:
- “Entendi Curralinho. Fale se está correto ou não”.
Puto da Vida:
- Filha da puta. Sua mãe chupa pau na zona.
Voz:
- “Entendi. João Pessoa, Paraíba, Rio de Janeiro, Natal, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus. Após ouvir a informação desejada tecle quatro para maiores informações”.
Puto da Vida comprime o botãozinho correspondente ao número quatro, e o faz mecanicamente, motivado pela raiva, tomado pelo ódio.
Voz:
- “Para melhor atende-lo tenha sempre papel e caneta nas mãos. Você sabia que seu telefone fixo pode custar menos de um real por dia? Por apenas R$ 29.90 você tem BOI fixo e ainda ganha R$ 1.200.00 de bônus. Ligue agora para 000-2829303132 – 555555, zero, zero, bolinha ó, e seja um ligador dentro e fora de casa”.
Puto da Vida:
- Você é uma franga de segunda. Vai dar esse traseiro sujo pro galo do seu vizinho. Vadia.
Voz:
- “31 o DDD desse Brasil. Pi, pi, pi, pi, pi, pi...”.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 56 anos, é jornalista.

"O PRESIDENTE RESPONDE" PARTE 2

O PRESIDENTE RESPONDE PARTE 2
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza

Mande suas perguntas por e-mail
picadura@botonocudospobresradioetelevisao.com.br
ou carta. Rua Mesmo Que Tu Não Abra Eu Enfio nº 171 Anexo II Mirante da Torre de Televisão Praça das Fontes Brasília DF Cep. 70.000.000

BOLSA DE ESTUDO
Eutanásio Xifrudo, 45 anos, professor de pedofilia para velhinhos assanhados do Maranhão (MA).
Dizem que o senhor não lê jornais e tem desprezo pelo conhecimento e pelo saber. Até que ponto isso é verdade?
Presidente Fula – Na democracia, companheiro Xifrudo, quem tem desprezo pelo conhecimento jamais chega a presidente da República. Eu, particularmente, tenho desprezo pelo conhecimento, mas, como neste país o povo troca seu voto por um punhado de coco, eu consegui ser presidente da República. Vista por outro lado, a nossa República trocada por merda é cara. Hoje, qualquer borra botas pode ser presidente. Basta ter jogo de cintura e gostar de viajar. Presidente que não viaja, não é presidente. Em paralelo, na rotina da presidência, eu recebo todas as manhãs um panorama de todo o que foi tratado pela imprensa. E ao longo do dia continuo recebendo informações de ministros, de lideranças políticas empresariais e trabalhistas sobre questões nacionais e internacionais que saíram e que não saíram na imprensa. Toda essa enxurrada de informações entra por um ouvido e sai pelo outro. Aliás, eu concedo entrevista praticamente todos os dias. Adoro aparecer na televisão. Quando não vejo uma câmera ou um jornalista por perto chega a me dar caganeira. Ainda bem que nenhum repórter me flagrou limpando a bunda. Dessa forma, se eu não tivesse informações, como poderia dar informações? Pode me perguntar sobre qualquer tipo de assunto que tiro de letra, principalmente se for sobre marca de cachaça. Tem uma cachaça que é produzida em Minas Gerais que se chama Como Botar No Cu Do Pobre Sem Fazer Força. É sensacional! Todo dia eu mando um gole pra dentro antes de ir para o Palácio do Planalto. É muito legal botar no cu do pobre sem fazer força. A Marisca fica tiririca comigo. Ela é muito emotiva. Pois bem, como as eleições estão próximas, quero ver se empurro no povo a aguardente destilada da Dilma. Meu problema está sendo o cabelo dela. Anda meio desgranhento. Voltando aos jornais, alguns deles parecem ter se especializado apenas em notícias negativas, do tipo “Aeronave é derrubada no Rio por bandidos armados com revolveres de brinquedo e pilotos morrem afogados porque não sabiam como pular de dentro da aeronave antes dela cair e se espatifar no chão”, ou “Cesta básica foge ao controle, dispara nos preços e deixa assalariado mais uma vez com a pica murcha entre as mãos”. Esses periódicos se tornaram capengas, deixando de transmitir as variadas dimensões da realidade, como por exemplo, “Tentaram botar no cu do Sarney, mas, ele, esperto, pulou de banda”, “Ministro da justiça peidou tão fedido que a justiça tirou a venda dos olhos e saiu correndo, mas foi atropelada, logo adiante, por um advogado que fugia com uma balança nas cuecas”.
Quanto ao saber, logo eu, que não pude ter uma educação formal, tenho feito muito mais pela educação do que governantes que tinham verdadeiras coleções de diplomas. Em meu governo, estamos criando 14444444444 universidades, 104444444444 extensões universitárias, concedemos 540000000000 mil bolsas de estudos para jovens de baixa, alta, media longa e curta renda para curso superior. Duplicamos o ingresso de estudantes nas universidades federais e estamos construindo 2140000000000 escolas técnicas. Agora, com o pré-sal, vamos criar um fundo sem fundo para foder o fundo de recurso vindo dos filhos da puta que não acreditam no pré-sal. Nossa idéia é investir na educação dos futuros saleiros e na inovação tecnológica para ensinar ao povo o que é pré-sal, e, regra outra, fazer com que essa escória de esfomeados coma mais sal nas suas eleições, perdão, refeições.
CORREÇÃO DO FGTS
Ambrósio Paraopebo da Cruz, 35 anos, metalúrgico de Mauá (SP).

Ao ser demitido, o trabalhador só pode contar com o FGTS para fazer alguma coisa na vida. Não está na hora do FGTS receber uma correção mais justa, com juros maiores?

Presidente Fula – Companheiro Ambrósio, o rendimento das contas é também uma preocupação nossa. Acontece que o FGTS – você sabe o que é FGTS? Vamos tentar explicar: FGTS significa FUNDO GORDO TIRADO DOS QUE SUAM MUITO. A sigla, inclusive, deveria ser FGTSM. M de Muito. Acontece que o FGTS (FODER A GALERA TAMBEM SOLUCIONA) é utilizado para financiar a casa própria do cachorrinho de estimação para milhões de trabalhadores de baixa, alta, media, curta e longa renda. Você não vê favela no Brasil. Procure uma. Você não vê gente sem casa, sem teto, sem um cantinho pra cair vivo. Me aponte um só cidadão que não tenha onde morar... Um só. E sabe por que você não vê? Por causa do FGTS (FUI GOZAR TIRARAM SARRO). São, portanto, companheiro Ambrósio, desses empréstimos que permitem bancar os juros e a atualização monetária das contas do FGTS (TR + 3%). TR significa TRABALHADOR ROUBADO. Ou seja, Teu Rabo + 3%. Para aumentar os juros das contas, nós seríamos obrigados a aumentar os juros dos financiamentos das moradias. Ou seja, nós estaríamos despiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnnndo um santo para cobrir outro. Eu sou muito católico, não gosto de mexer com santo, ainda mais quando se trata de um tal de Santo Antão, que tem um pirú do tamanho do topete do Fabiano Anastácio, o rapazinho que comandou a invasão no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Mas... Voltando ao FGTS, você não iria querer FODER O GOVERNO TENTANDO SUCATEA-LO, ou, em linha paralela, FAZER O GOVERNO TOMAR UM SUSTO pleiteando correção mais justa e juros maiores. Lembre-se que foi criado em julho de 2008 o FI - FUNDO DE INVESTIMENTO do FGTS. Com esse fundo, seu fundo e o fundo de todo trabalhador vai de vez para o fundo, isto porque parte do FGTS passou a ser aplicado também nos setores de energia para boi dormir, rodovias para caminhões de brinquedo, hidrovias para dinossauros e ferrovias para formigas periféricas com síndrome de Jader Barbalho. Dentro de alguns anos, você vai pegar um trem em São Paulo e vai descer em Brasília. Vai poder pegar a sua família e ir de Belo Horizonte a Marte, ou de Curitiba até a Puta Que o Pariu, em confortáveis carros Pullman com ar refrigerado e cafezinho de baiano. Estou me referindo ao trem bala perdida, ou seja, aquele trem que o governo aperta o gatilho e você não vê passar, mas sabe que vai acertar a carcaça de alguém. O rendimento, nesse caso, só pra completar o raciocínio, pode chegar a 999999999999999% anuais, crescendo o bolo do FGTS e, portanto, a conta de cada um dos trabalhadores. O bolo o governo come, rapa tudo, mas o 99999999999999% você vê, pega, cheira, senta em cima, enfia na boceta da sua mãe, etc, etc. É uma excelente forma de remuneração, sem causar impacto. Temos que lembrar igualmente, companheiro Ambrósio, que no caso da demissão sem justa causa (eu disse justa causa, não casa), o empregado tem direito a receber do patrão, além de um possante e bem dado pé na bunda e um “vá pros quintos”, o valor correspondente a 40000000000% do FGTS depositado. Onde? Ora, companheiro Ambrósio!...

INVESTIMENTO EM ESTRADAS
Getulio Vargas da Verga Endurecida, 38 anos, microempresário de Manaus (AM)
O que está faltando para dar um jeito nas estradas do norte, como a BR 319?
Presidente Fula – A BR-319 (Manaus Porto Velho), de 880 km, é tão importante que incluímos no PAC (Pica Aguardando um Cu) suas obras de restauração e pavimentação. O investimento é de R$ 200 milhões, porém, nós apresentamos uma conta de R$ 600 milhões que é para sobrar uma merreca que será depositada a título de aposentadoria para quando este presidente se aposentar. Tirando os trechos já concluídos que leva você de lugar nenhum a lugar algum e os que estão em obras, que é o inverso do que acabei de falar, há 405 km em processo de adequação às exigências ambientais. Essa rodovia é a única via de ligação terrestre do Estado da Amazônia com o resto do País e não pode se transformar na porta de entrada, tampouco de saída para a ocupação desordenada do nosso maior pulmão de oxigênio vivo. A Amazônia eu quero ver se empurro na goela do FMI em troca de um novo empréstimo para ajudar a aparelhar melhor as policias civil e militar do Rio de Janeiro. Criamos um Comitê Gestor com diversos órgãos federais e estaduais não só para triplicar os cabides de emprego e gerar votos, como visando em curto prazo, a implementação de ações que acelerem, a graus máximos, os impactos ambientais. A demora no licenciamento, é porque não queremos pagar propina e, no mesmo norte, precisamos ser cautelosos, sobretudo, cuidadosos. Queremos que a BR 319 se transforme na primeira estrada cemitério oficial do Brasil, de preferência que aconteça de três a quatro acidentes fatais por dia. Pretendemos fazer dessa rodovia, para não assustar muito, uma estrada parque dos dinossauros, que atenda as necessidades tanto do desenvolvimento quanto da preservação ambiental dos gafanhotos e das muriçocas. Em toda a região norte, o PAC (Pus a Venda meu Caralho), prevê a construção e pavimentação de 3.55444444444444444444444444444444 Km de rodovias. Já foram concluídos 46111111111111111111111km e 1.0000000000000000000057Km estão em cobras. Como o amigo pode perceber, e respondendo a sua pergunta, só falta, agora, a gente achar para que lado fica o norte.
(*) SOBRE O AUTOR: OUTROS TEXTOS DE APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA PODEM SER ENCONTRADOS NO “GOOGLE” BASTANDO DIGITAR SEU NOME COMPLETO.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"CAMINHO SEM VOLTA"

Caminho sem volta

Aparecido Raimundo de Souza

“A jornada através das sombras que agora vamos acompanhar poderia ser a nossa jornada”.
Rod Serling.

Ana Angélica sente sua alma rés ao chão. A mente rodopia por fronteiras indistintas e instâncias opacas, numa bagunça tremendamente incontrolável. Marcha dentro de si um troço pesado que sufoca o corpo inteiro. A cabeça parece cindida em mil pedaços. As vistas estão enfermas embaixo dos óculos de grau vencido. No peito, o coração teima acelerar descompassado, como se alguma coisa anormal o estivesse agitando. As pernas bambeiam, os pés doem apertados dentro dos sapatos de coriáceo vagabundo. Até as roupas que lhe cobrem a nudez, pesam como chumbo sobre o corpo magro. Atrelado a isto, estranho mal súbito insistindo dominar o ambiente como se o universo fosse acabar no próximo minuto.
Por que a modorra apática, e a desagradável sensação de fadiga lhe transformando a carcaça em estrupício? E olha que só contava poucos anos de idade...
Aquele dia (como tantos outros) transcorreu pesado e frio, com a mesma miscelânea circense de sempre. As horas lhe enterraram num sepulcro hostil e inviolável, como se a vida lhe tivesse tamponado num buraco fundo e sem retorno. E aquele maldito quarto desgraçadamente iluminado completava o quadro dantesco da triste e malfadada sina. Tentara, por diversas vezes, dominar o astral, escapar da turbulência repulsiva; fugir da alienação inconcebível e poderosa. Mas o espírito perturbado a colocava em posição inferior, totalmente sem forças, carente e muito só. Outras ninfetas zombavam da sua cara, escarniavam pontos frágeis, motejavam de sua posição ridícula. Na verdade, a galera em peso aguardava pacientemente sua entrada nos labirintos obscuros da neurastenia.
Com os pensamentos embaralhados e em tumulto desordenado, se perguntava aflita, como caíra tão rapidamente naquela incúria, deixando-se levar pelo injustificado das incertezas e das horas tediosas da solidão? Onde ficara, onde deixara a vontade de vencer os obstáculos, transpor barreiras e saltar infortúnios inesperados?
Sem obter respostas à altura dessas indagações, Ana Angélica lamentava ter deixado o acaso dominar sua existência a ponto de vegetar ao deus-dará. Afinal de contas, qual o motivo, ou melhor, o que ensejou toda aquela transformação em sua curta jornada?
Pôs-se, de repente, a lembrar o passado. Ah, o passado! Fazia pouco mais de seis ou sete meses, seu pai lhe colocara no olho da rua. Motivo? Uma gravidez indesejável. Até então Ana Angélica era a melhor filha do mundo. Com a revelação do exame laboratorial feito às pressas, a bela perdeu a posição de “princesa” para aquele cidadão que gozava da mais alta reputação na cidade. Na verdade, o tal cidadão se constituía na autoridade máxima do judiciário local: o juiz! Como representante da lei e da ordem, o matriarca precisava dar exemplo. Nesse pensar, o velho genitor virou-lhe as costas mostrando a porta da rua e escancarando a crueldade que começava do portão que se abria para os infortúnios e contratempos da sorte. A decadência da moça tornou-se maior ao procurar abrigo na casa do namoradinho que lhe jurara amor eterno. Onde ficara esse amor? Leandro, o pai da criança, descendente de tradicional família, ao saber da novidade da prenhez, deu linha à pipa, jogou para o alto os anos de faculdade, o consultório, a clínica cardiológica, os clientes e, o que é pior, o comodismo de viver às expensas paterna. Na surdina, escudado pela calada da noite, o doutorzinho deixou o lugarejo à horizontes ignorados.
Em povoados de extensão limitada, um fato inusitado voa na velocidade da luz. Estar grávida, a filha única do juiz, naquele fim de mundo, onde Judas perdera as botas, num piscar de olhos e sem muito esforço, uma tragédia familiar comum nas grandes metrópoles se agigantava. Virara chacota na boca suja do povo em questão de segundos. E foi o que aconteceu. Envergonhada, sem comida e teto, e ainda, a agravante da fuga do pai da criança, a solução plausível culminou por embarcar no primeiro trem. Veio com mala e cuia, aportar em São Paulo, ou mais precisamente na Estação da Luz. Sem condições de sobrevivência, não demorou encontrar os degraus mal cheirosos da prostituição. Neles, Ana mergulhou de cabeça até a raiz dos cabelos.
Bonita, formosa e gentil, não lhe faltavam noitadas regadas a cervejas e bebidas baratas. Os fregueses variavam: ora saia com um marginal, outra carregava para a cama um gringo desses bem nojentos. As vezes dormia com almofadinhas elegantes, casquilhos vestidos a rigor ou efeminados. A maioria deles, entretanto, um ponto em comum. Drogados e viciados em maconha e cocaína. Norte igual, o espaço que mediava entre a concepção e o nascimento não interrompia a hora derradeira, ao contrário, diminuía, diminuía, diminuía...
Nessa pressa de vida fácil, o tempo corre com rapidez impossível. Voava, para Ana Angélica, como um pégaso desgovernado, trotando atabalhoadamente na direção do despenhadeiro fatal. Atiçada pela elevada valorização do corpinho esbelto e garboso, a matrona - dona do bordel, não perdia clientes - longe disso -, multiplicava o conjunto de paroquianos como fieis num culto religioso.
Os que freqüentavam o prostíbulo só queriam desfrutar dos chamegos e das carícias daquela elegante bem proporcionada e sensual, segundo eles, caída do céu, como um anjo em forma de gente. Por essa razão, a cafetina, conhecida como ”Maria Padilha”, a partir do momento em que resolvera abrigar a pequena pérola nacarada, mudou de vida. Como cobrava alto pela exploração da garota, logo expandiu os negócios. Adquiriu dois bons apartamentos no Largo do Arouche, outros no Treme-Treme, na Rua Paim, na Bela Vista e uma quitinete no Edifício Copan, além de um carro zero para desfilar.
Com a mente em desalinho, e sem um policiamento ostensivo para conter a avalanche de misérias e penúrias que atormentava, Ana Angélica continuava a se questionar dessas mudanças bruscas, quando, entrementes, lembrou de uma arma que a colega, que dividia o quarto, guardava num das gavetas da prateleira. Resoluta, impassível, caminhou até lá. Precisava agir rapidamente. Logo a parceira retornaria do programa que fora fazer. Abriu o velho móvel. Lá estava, como imaginava, o final feliz para o seu rosário de dissabores. Um trinta e oito, cano curto, cabo em madre pérola, municiado, descansava envolto entre cachimbos para crack, buchinhas de maconha, calcinhas sujas e sutiãs rasgados. Decidida a não voltar atrás, apanhou o revolver. Segurou as feições contraídas, onde um medo inesperado e quase a saltar boca a fora deixou-lhe, por breves segundos, o corpo em estado de choque. Lentamente se acomodou na banqueta diante do espelho com um pedaço de vidro faltando numa das extremidades. Precisava seguir em frente. Vencer o medo. Não podia titubear. E não o faria.
“- Adeus mundo. Adeus, vida! Meu pai, minha mãe. Por favor, me desculpem!...”.
Num derradeiro ímpeto materno, alisou a barriga, massageando a carinhosa e demoradamente. Oito meses e meio. Oito longos meses... Seria um menino ou uma menina? Que importância teria, ou faria, esse pormenor, agora?
Sem assistência médica e condições de visitar um ginecologista, o feto sobrevivia a trancos e barrancos. Que nome lhe daria? Como seria o rostinho? Com quem pareceria? Talvez, quem sabe, com ela, ou...
Nesse instante amargo, dos seus olhos de menina mulher rolaram algumas lágrimas ligeiras. Recordou-se do pai, da conversa que tivera antes de acontecer toda essa bagunça em sua vida: “- Filha, aequam memento rebus in arrudas servare mentem (¹) – disse ele. – “Jamais entregue os pontos. Lute, esbraveje, seja forte. Agarre a vida, brigue, esperneie. Não desista ainda que todo seu eu interior transpire solidão e agonia”.
Todavia, nessa altura do caminho, aquele bate papo se tornara desnecessário. Ficara sem nexo, como ela, sem rumo, e a esperança que nutria fraca demais. Das palavras sábias do velho pai, só recordações distantes agonizando no peito despedaçado. Entrementes abaixa a cabeça. Monologa com o bebe:
- Perdoe a mamãe, meu neném querido, seja você quem for. Não está certo o que vou fazer. Não tenho o direito de tirar sua vida. Você não vai entender esse gesto, mas... Será melhor... Me alegro interiormente em saber que você não conhecerá esse lado funesto e cheio de agruras e inquietações. Mamãe ama você... Mamãe ama você... Mamãe aaa...
O tiro ecoou forte. Viajou certeiro em busca do alvo fácil. Num instante dolorido, virou uma espécie de loopem tremendamente perverso zoando dentro das quatro paredes. Ato contínuo, pessoas danaram a correr. “Maria Padilha” esmurrou a mesa onde tomava um lanche rápido. Um homem que fazia programa com uma das garotas pulou da cama, vestiu a calça rapidamente, abriu a porta, aos berros, obtemperando para que alguém acionasse a polícia. Em curto espaço uma turba rumorosa cercou o casarão que se vestiu de uma curiosidade ímpar em busca de desvendar a desgraça acontecida.
Nessa hora, pela janela do aposento, se descortinava um crepúsculo vespertino langoroso, um declínio que caia manso e enfadonho sobre a cidade. Ataviado a ele, um vento caricioso soprava, de leve, balouçando o tecido da cortina ensebada. Dobrada sobre si mesma, os dedos entrelaçados como se quisessem segurar a vida que trazia no útero, envolta numa enorme possa de sangue, Ana Angélica, a querida e desejada dama da noite, metida, agora, numa via de mão única e sem retorno, soltava, o derradeiro grito lancinante de estertor. Apesar disso, de toda dor e sofrimento e dos olhos desmesuradamente arregalados, um silencio perene aconchegava-se lhe no semblante contrafeito derramando, por sobre sua tês, um tênue fio de paz e descanso de espírito.
(¹) “Lembra-te de manter o ânimo justo nos momentos difíceis”

"SINDROME DA PICA ROXA"

TEXTO MÉDICO DE INTERESSE GERAL

Síndrome da pica roxa

(*) Aparecido Raimundo de Souza.

O que todo homem necessita saber para não ser surpreendido por essa enfermidade.


Descoberta originariamente em 1999999999999992000 pelo médico português Joaquim Manoel Dias Mangueira Grossa, a síndrome da pica roxa (ou pica defeituosa) se caracteriza por alteração na coloração do pau, principalmente na ponta esquerda direita da cabeça. A glande fica pequena e amarela, o saco verde e as bolas se dilatam e se escondem no escroto, com medo de serem chutadas. A pele que encobre o saco se torna pálida como um defunto, depois escurece e, enfim, perde o volume natural.

Tais mudanças podem durar duas horas ou minutos, dependendo do tamanho e da duração da felação (chupada) recebida e do modo como a parceira flexiona o brinquedo (vai e vem) para que o seu macho atinja o gozo e ejacule, comumente espirrando no rosto - não da mulher - mas de algum bichinho de estimação, tipo gato, cachorro, etc...
A doença, em si, faz o cidadão andar de ré, para trás, feito caranguejo menstruado, porque, na verdade, a coisa toda resulta de uma diminuição no fluxo do sangue nos vasos que fazem a pica ficar literalmente ereta. Pequenas pedras do tamanho de uma melancia com bico de papagaio se condensam nos capilares e nas mais finas ramificações do órgão reprodutor masculino, desencadeando uma espécie de entupimento ou engarrafamento dos vasos, o que acarreta no paciente, uma aversão ao frio, tanto da natureza, como do ar-condicionado e, até de um ventilador ligado no mínimo. Pode ser provocada pelo uso de (camisas de Vênus) popularmente conhecidas como preservativos, toquinhas ou camisinhas, sem falar na ingestão de remédios contra gripe, tiróide, pressão alta e, agora, a gripe suína.

Já foram constatados betabloqueadores, exposição a vaginas mal lavadas, ou com perfumes baratos nos grandes lábios; vaginas cabeludas demais, clitóris com pisca pisca histérico e vulvas dilatadas por objetos estranhos, ou, ainda, expostas a solventes químicos com polimil; alcool, detergente, soda cáustica ou traumas de trabalho tipo operações de britadeiras, digitadores de retos furiculares, cantores de ópera e emoções negativas fortes. A síndrome da pica roxa ataca igualmente caralhos que enfrentam excessos de trepadas, como garotos de programas, rapazes que vendem o corpo a preço de banana, com a banana junto e conseguem, num só dia, levar para a cama, em média, umas dez ou quinze mulheres, nem que seja para contar para elas histórias da carochinha. É comum essa síndrome em homens que trabalham como ajudantes de coveiro e catadores de latinhas de refrigerantes.

O mecanismo é simples e funciona da seguinte forma: no momento em que os vasinhos do pau se fecham, a pele da cabeça perde a cor normal. À medida que passa a faltar oxigênio, ela se torna roxa; e, quando os vasos se abrem novamente, fica preta como um tição, em conseqüência da “inundação” do local, não pela porra, mas pelo sangue. De acordo com as estatísticas americanas, o fenômeno atinge 50% a 100% da população. Manifesta-se em homens de todas as idades, no entanto, é mais freqüente em idosos com mais de 125 anos.

Pode haver, quando ocorre o ataque, ligeira diminuição da sensibilidade na hora de endurecer, ocasião em que a pica fica literalmente estática, perde o viço, a energia, e se queda, sonolenta, a ponto de, nem com uma boa chupada nos colhões, uma mulher (de fechar o comercio ou por mais experiente que seja em matéria de sexo), conseguirá reverter o quadro fazendo com que o bilau volte ao tamanho normal. A síndrome da pica roxa, às vezes, é presságio de doenças outras, como picartrite reumatóide da próstata (inflamação do tecido que recobre as articulações mucosas do pênis); lúpus eripicatematosos (moléstia em que o próprio pinto produz anticorpos que podem atacar outros órgãos fundamentais como rins, coração e também o envoltório que reveste as pregas do anus e outras articulações, como a língua, por exemplo); polibundamiosite (inflamatório dos músculos que cobrem a pescoço da pica); dermatomiocusite (lesões na epiderme e nos músculos causados pela fricção na hora da introdução numa vagina pouco umedecida); fibrocumialgia (dores generalizadas no escroto acompanhadas de uma fadiga inexplicável na hora em que a companheira tenta bater uma punheta e o pau, automaticamente, pende da banda esquerda para a direita, pensa no Lula e na Dilma ao mesmo tempo ) murcha, perde o tesão de vez e se esconde; e escleropicadermia (doença que se caracteriza pelo enrijecimento do tecido do saco, na hora em que a fêmea, no ápice de chupar e engolir o caralho com os bagos juntos, de uma só vez, passa a língua ou morde o ponto nevrálgico de maneira imprópria, melhor descrevendo, deglute, sorve, traga inopinadamente aquele circulo concêntrico situado entre a ligadura (base do pênis) com as pregas da entrada do Canal do Panamá. Nesses casos, recebe o nome de “fenômeno da pica ausente”. Quando a síndrome não tem nenhuma moléstia aparente, é denominada “doença da pica cansada”. A doença da pica cansada, em geral, assusta, mas é benigna, isto é, não causa transtornos de envergadura ao portador; basta que ele tire algumas horas, tome um banho morno, de assento, solte uns bons peidos dentro d'água e, depois, procure um grelo sem grilo para se esfregar.

Já o "fenômeno da pica ausente", ao contrário, é mais complicado, porque pode fazer parte de uma inquietação mais nociva, entre elas, a escleropicadermia grandulal tubular, que às vezes provoca feridas em toda a extensão do membro, ainda que a denominação dele seja a Universal. Se o pau se contamina com bactérias de uma vagina não higienizada com certos critérios, se se mistura a uma boceta menstruada, ou pior, se, sem querer, o ferro do infeliz entra em contato direto com o cu (ainda que somente numa rápida pincelada em torno da portinha), esse delicado, mas, ao mesmo tempo impensado gesto, poderá elevar o quadro clínico a patamares gravíssimos, e, em decorrência, o cidadão, dependendo do caso, correr o sério risco de até vir a amputar o pau, com saco, escroto, próstata e bexiga.

Prevenção, evidentemente, é a melhor alternativa. Sempre. Se o prezado leitor é portador da síndrome da pica roxa, pode evitar que a coisa reapareça ou se manifeste de forma irreversível. Para isto, deve seguir algumas medidas básicas. Proteja o pinto de tomar frio. Pinto com frio, não sobe. Dorme, sonha, e, às vezes, até ronca. Envolva-o com cuecas ou mantas de lã. Evite cigarro, que colabora para o agravamento sistêmico da crise. Não enfie, em hipóteses nenhuma, a sua ferramenta de trabalho numa boceta que você não conheça a procedência. Fuja das piratas, notadamente das que vem com tapa olho sob a calcinha. Lembre-se: é melhor bater uma punheta no banheiro de frente para uma foto do Lula vestido de terno preto com a faixa de presidente da república no peito, ou, se preferir, iniciar um cinco contra um pensando no rabo poposudo da Bruna Surfistinha ou da mulher do delegado Protégenes, da Policia Fedemal. É recomendável, outrossim, que qualquer cidadão com sintomas estranhos procure um médico ginecologista, perdão, proctologista, ou mastrologista, e, de preferencia, que o paciente assim que chegar no consultório, agarre com força no mastro do doutor e não o solte nem por reza braba.

Existem bons especialistas nessa área também no serviço público. Uma alternativa, são os PAs e as universidades federais e estaduais existentes nas capitais e, em muitas cidades grandes. O único inconveniente nesses locais, notadamente nos Postinhos de Pronto Atendimento, é que o paciente precisa levar uma latinha de vaselina, para a consulta, pois o médico, na hora de enfiar o dedo no seu rabo, pode não ter o material apropriado e a sua bunda ficar irritada ou ardida e até vir a sangrar depois de tomar a dedada.

É bom lembrar ainda que o diagnóstico começa com o estabelecimento de um histórico do paciente. A partir daí, é possível fazer alguns exames para diferenciar a doença do fenômeno. Um deles é a picalaroscopia, que consiste no médico dar umas marteladas com um martelinho de ferro em forma de picareta, no pênis e depois enfiar o que restar do pobre coitado numa boceta de plástico, visando analisar se os vasos capilares estão injetando sangue o suficiente para manter a pica em ereção constante durante uma relação penis-vagina.

Em paralelo, é necessário, igualmente, fazer exames de sangue específico para o diagnóstico das moléstias auto-imunes. São os marcadores, substancias que permitem saber, se a síndrome é sintoma de alguma doença mais grave que precisará ser tratada. Quando não existe nenhuma, deve se manter aquecida as regiões alvo e evitar que o frio e outros desencadeadores, criem vida e forma. Bocetas não lavadas adequadamente é sempre bom repetir, ou com corrimentos, sapinhos, ou suadas e fedendo a bacalhau devem ser literalmente evitadas. Cu nem pensar, em vista dos vários tipos de fungos e parasitóides que se entrelaçam no reto e se propagam para as pregas.

Alguns remédios podem ser usados para dilatar os vasinhos do pau quando este é muito grande e o sujeito não dispõe de um buraco seguro para meter. A doença é controlável, dando ao portador, se detectada a tempo, boa qualidade de vida com futuras e excelentes trepadas, seja com sua esposa, companheira, amante ou namorada.

(*) Aparecido Raimundo de Souza 56 anos, NÃO É MÉDICO, mas jornalista.