terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"AS DANAÇÕES DO COMPADRE ZÉ"

As danações do compadre Zé.


(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.


Zé Povinho se considera uma besta. Embora seja um cara instruído, leitor inveterado, se classifica politicamente falando, como uma besta. Para completar o quadro, uma besta quadrada.

1)
Ele não entende, por exemplo, por qual motivo a mídia escrita, falada e televisada dispensou tanta atenção e se esmerou em promover, com estapafúrdio alarde, o câncer da Sra. Dilma Rousseff, exatamente quando um número enorme de brasileiros, todo santo dia, de canto a canto deste Brasil imenso chega a óbito nos corredores dos hospitais da rede pública, por absoluta falta de recursos. Zé Povinho não compreende porque a Sra Dilma, para fazer uma bateria de exames tidos como “rotineiros” necessitou de mais de uma dezena de hematologistas e oncologistas, sem contar os trocentos seguranças na porta do hospital particular, ao contrário do trabalhador honesto, para sobreviver nesse país de filhos da puta, não sabe o que é um hematologista, ou um oncologista, e pior, desconhece a porra da segurança, ou melhor, ignora o que lhe possa vir a suceder, a partir do momento em que coloca os pés fora do aconchego de sua casa. Zé Povinho fica indignado em saber que, enquanto o câncer da maldita Dilma faz dela uma “coitadinha”, uma infeliz, quem precisa do remédio para tratar do mesmo mal que definha suas entranhas, se não quiser se foder mais cedo, e parar na cidade dos pés juntos, terá que desembolsar por um frasco do Mab Thera (remédio que prolonga a vida do paciente dando-lhe maior possibilidade de sobrevida) 8.000 reais, quando o certo seria o governo vender esse medicamento a preço que qualquer necessitado pudesse ter acesso. E Zé pergunta, com a sua cara de babaca – o semblante carregado de insatisfações: por que essa maldita ministra não aproveitou o seu mal, e, na ancora do seu câncer eleitoreiro - ao invés de fazer propaganda para uso próprio, querendo se promover, visando o poder, por que, ao invés disso, não lançou uma campanha em rede nacional, para que os mais de 10.000 pacientes que sofrem do mesmo problema pudessem gozar, através da aquisição do tal Mab Thera, a esperança de viver um pouquinho mais?

2)
Outro fato que deixou Zé Povinho enfurecido, pê da vida. O bate boca dos ministros Joaquim Barbosa e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Barbosa disse ao colega que ele “estava destruindo a credibilidade do judiciário brasileiro” e que deveria saber que “não estava falando com os capangas dele do Mato Grosso”. Ora, minha gente, Zé Povinho pode ser uma besta, mas burro, não. Realmente concordamos com ele. O judiciário brasileiro é uma caixa preta, um embornal de gatos famintos, um barril de pólvora prestes a explodir. Uma espécie de saco, onde os poderosos depositam seus excrementos e nos obrigam a carregar nas costas. No meio dessa confusão toda, o que incomoda o Zé e ultimamente vem lhe tirando o sono: os capangas do Mato Grosso! Deveríamos estar igualmente incomodados com isso? Ser solidário a esse brasileiro porreta? Zé Povinho não entende muito de palavras difíceis, não manja de termos rebuscados. Todavia, está sério, bastante pensativo, deveras acuado, procurando mastigar, digerir de uma vez por todas com essa história dos capangas, tirando tudo em pratos limpos. Seriam esses capangas do Mato Grosso?... Algum prato novo que os poderosos vão nos enfiar goela abaixo????

3)
Preocupado com a gripe suína, Zé Povinho também tem a sua opinião formada. Ele acha que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão deveria, antes de se apresentar na televisão para falar em público e tratar de um assunto tão delicado, colocar, na cara, uma máscara de porco. Assim, as pessoas iriam se acostumando a ver os suínos e outros membros da família com olhos mais amenos. Em paralelo, ao invés de dizer que os supostos “infectados” passam bem, o ilustre ministro precisaria colocar no mercado, em caráter de urgência, uma cartilha com os principais tópicos da doença, grosso modo, ensinar a galera a chafurdar no lamaçal do SUS (Sistema Único de Safados), a partir do momento em que a coisa se agravar de verdade e a mentira que ronda pelo ar, virar epidemia de fato. Como os horários políticos se faz necessário promover uma lavagem cerebral nessa grande massa de embasbacados, que, aliás, não enxergam um passo adiante do nariz.

(*) Aparecido Raimundo de Souza é jornalista
Outros textos do mesmo autor podem ser vistos no "Google" ou no site:
www.paralerepensar.com.br

sábado, 21 de novembro de 2009

"TUDO POR NADA..."

Tudo por nada...

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza

para a Eliana, minha cunhada, com carinho especial

Podem acreditar piamente no que direi agora. Depois que visitei minha cunhada Eliane, no hospital, fortaleci, dentro de mim, a certeza de que não somos nada. Apenas e tão somente um amontoado de carne em constante estado de decomposição. Não passamos de tecido deteriorado, malcheiroso e podre. Isso mesmo: podre. Digo isto, porque até bem pouco tempo, a mulher de meu irmão esbanjava vida e saúde. Saia cedo para vender roupas de porta em porta, intencionando ajudar o marido que montava ventiladores de teto. Não que precisassem: tinham um luxuoso e confortável apartamento, carro do ano, alguns trocados no banco para não acorrerem à preocupação de fazer alguma coisa às pressas para colocar na mesa dia seguinte. Mas a moça não era de ficar quieta. Havia uma magia perene em torno da sua áurea, que a deixava em constante ebulição. Em nome dessa chama que nunca se apagava a bela reinava absoluta. Simplesmente se punha em campo, não se quedava a espera que a grana do supermercado ou do açougue caísse do céu e parasse em sua bolsa de mãos beijadas. Jamais!

Eliana arregaçava as mangas e se punha em polvorosa, com todo o gás. Pau pra toda obra, corria paralelo ao companheiro para ajudar no equilíbrio das despesas mais prementes. Econômica aos extremos chegava a dar no saco. Parecia uma chata de galochas, regando comida, oferecendo as visitas um cafezinho requentando com pão dormido e manteiga rançosa. Não gastava atoa, com besteiras, tinha os pés firmes no chão e muito discernimento com relação ao futuro que almejava construir. Algumas pessoas mais chegadas afirmavam que a Eliana pensava “não com o coração, mas com a cabeça fria”.

Todavia, de repente, o inesperado bateu à porta. Em conseqüência, os sonhos que acalentava, pararam junto com a sua altivez num leito de hospital. A partir daí passou a definhar. Os movimentos das mãos e dos pés cessaram, o rosto perdeu a cor tranqüila e os olhos que brilhavam intensamente se perderam num labirinto sem volta. Não ficou só nesse quadro: o resto do corpo atrofiou. A esperança perdeu o viço, os dias se tornaram compridos demais, as noites melancólicas e insidiosas. Sua via crucis foi tão penosa que num dado momento pintou no seu caminho uma sala fria de UTI. Quando se viu fora dela, precisaram colocar uma sonda para que fizesse as necessidades fisiológicas sem maiores problemas.

Hoje a Eliane vive atrelada a uma máquina e a mercê de um infindável coquetel de antibióticos. Não reconhece os parentes mais próximos. Troca nomes, não pergunta pela filha Carol, não sorri, não, chora, não tem emoções, enfim, parece vegetar uma eternidade mórbida, depressiva, embora esteja, ainda, no albor da juventude. Assistida pela mãe, pelo meu irmão e pelas irmãs, Eliana toca os dias, sem a expectativa de voltar ao normal. De poder sair andando a passos próprios, de chegar até a janela e espiar para a rua, sem precisar fazer uso da cadeira de rodas; ou de tomar, quem sabe, um banho de chuveiro sem que alguém tenha que vir lhe amparar. Ou por outra: de se enxergar defronte ao espelho a pentear os cabelos, a passar um batom, escolher um vestido no guarda roupa; se entregar, ardorosa e impaciente, num sorriso largo a esperar pela chegada do marido.

O Cláudio, meu irmão, por tudo o que vem passando parece ter envelhecido alguns anos. Profundamente abatido, derribado e melancólico, se transformou numa criatura de gestos nervosos, cheia de tiques involuntários. A dor física que lhe invadiu, parece pequena perto da possibilidade de uma possível separação que se avizinha. Claudio, na verdade, se trancou numa redoma misteriosa, enigmática, desconhecida e estranha. Ficou desprotegido, encurralado entre a cruz e a espada, preso aos fios de uma esperança desfeita, tentando recompor o que sobrou da sua família que, de repente se quebrou como um bibelô de cristal. Sozinho, com a filha, tenta seguir adiante, como se vivesse uma orfandade anunciada. O Cláudio não fala, mas com certeza, se questiona a todo o momento, se quebra em perguntas sem respostas e, pior, desconhece como será o futuro que ainda está envolto pelo incerto amanhã.

Diante dessa moldura desoladora, procuro lembrar a Eliana nos áureos tempos em que gozando saúde plena, não sabia o que era tirar uma folga para descansar. De coração grandioso, muitas vezes doou roupas da Carol, como dezena de brinquedos, para que eu levasse para minhas filhas Amanda e Luana. Uma vez, e isso não faz muito tempo, foi comigo numa loja e abriu um crediário em seu nome e por causa desse seu gesto de solidariedade a toda prova, pude dar de presente uma boneca para a Luana, que aniversariava. O que estou querendo dizer, afinal, é que não sei por quanto tempo ela ficará nesse quadro mórbido de inquietações ásperas à espera que alguma coisa, de um momento para outro, mude para melhor. É dolorosa a espera. Mais ainda, a incerteza. Entre a espera e a incerteza, surge outra aliada igualmente infame: a desolação. A desolação fere, melindra, magoa, aflige, conturba. É como a dor. A dor nada mais é que um fechar de porta entre o homem e Deus. É no momento de intensa dor, ou mais precisamente quando ela se torna lancinante que damos um tempo na nossa desgraça e lembramos da existência do Altíssimo. Às vezes precisamos ter a porta fechada, na cara, para nos enchermos do Espírito do Bem Aventurado e voltarmos a ser totalmente felizes. Somente nas horas amarga lembramos que a benignidade do Pai é gratuita e infinda.

Quero, todavia, recordar da minha cunhada, não vestida naquelas roupas esquisitas que os doentes usam nos hospitais. Também me recuso a aceitar o fato de vê-la submissa, dependente, jogada à sorte, subordinada a uma enfermeira de rosto amarrado que deu o ar da graça para trocar, de má vontade, o frasco do soro que findou, ou aplicar uma injeção para que lhe seja aplacada alguma dor oculta dentro do peito em frangalhos. Apesar dos pesares, acredito e vou acreditar sempre, que a sua enfermidade, seja ela qual for se pareça com aquela nuvenzinha vadia que aparece lá no azul do alto céu e, depois, logo em seguida, some misteriosamente nos confins do horizonte.

Por assim, embora não podendo me ouvir neste momento, saiba, minha querida cunhada, que a vida é um vício gostoso, como o cigarro na boca do tabagista. O fumante, a cada dia que passa se prende a ele e, com o correr inexorável dos dias, dos meses e dos anos, se torna seu escravo incondicional. Como ao ato de fumar, não ficamos sem respirar. O cigarro é para alguns, como o ar benfazejo que absorvemos para continuarmos vivendo. Essa entrega ao vicio nos quebra as amarras, ao tempo que nos põe de mãos atadas. Basta, pois, Eliana, que você se entregue a esse vicio e, como um fumante inveterado trague a vida, fume a vida que está ao seu lado, esperando apenas que você a acenda. Daí para frente, o desejo de seguir a caminhada lhe sustentará os passos em busca de novos horizontes.

Pela vida a fora, desde o nascimento, a gente começa um longo processo de definhamento involuntário. Com o correr dos anos, perdemos a força, consumimos, aos poucos, e lentamente, nossos sonhos, desejos e vontades. Largamos também, nessa trajetória, a margem da estrada, esquecida, a virtude maior que nos é dada sem que por ela precisemos pagar um centavo: a paz de espírito. Viver, portanto, minha querida cunhada, é não ter tranqüilidade, é lutar todos os dias contra as intempéries ocultas que nos atinge o centro nevrálgico do coração pelos labirintos insondáveis da alma minada pelo peso iracundo do tempo que o destino matreiro nos reservou. O que estou pretendendo dizer é muito simples. Não desista desta luta, não decline do vício. O vício de viver, claro. Continue dependente dele. Cada dia mais e mais. Não pare agora. Lute, peleje de unhas e dentes, esbraveje, grite, mas vá à guerra com todas as forças que eu sei, e que todos nós sabemos, existe dentro de você. Deixe que o vício da vida, aliado a brisa terna da vontade de querer, invada e consuma suas entranhas por inteiro. De a volta por cima. Regresse para a Carol, para o Claudio, para sua mãe, seus irmãos, enfim, para você mesma. Se de esse presente. Na verdade, cunhada, na verdade o que todos nós almejamos, é que você, Eliane, volte correndo para junto de todos nós.

(*) Aparecido Raimundo de Souza é jornalista.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"O PRESIDENTE RESPONDE" Parte 1

O PRESIDENTE RESPONDE
Parte 1

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Mande suas perguntas por e-mail picadura@botonocudospobresradioetelevisao.com.br ou por carta. Rua Mesmo Que Tu Não Abra Eu Enfio nº 171 Anexo II Mirante da Torre de Televisão Brasília DF.

TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SEM DENTISTA
Carlos Cu Largo, 40 anos, trabalhador braçal sem os braços de Curitiba (PR)

Em propaganda que o elegeu o senhor anunciou que o Programa “Brasil Sorridente” seria um serviço odontológico com várias especializações. Em Curitiba, percorri vários postos e todos negaram a existência do serviço. Como posso beneficiar-me desse projeto?

Presidente Fula – Companheiro, eu cansei de ver crianças de 10 e 12 anos já sem os dentes. Vi inclusive, rapazes de 17 anos sem boca, procurando uma, nem que fosse de fumo. No lugar da boca desses jovens, vi panelas imensas, verdadeiras crateras, algumas delas maiores até que o rombo da Previdência. Tinha um rapazola, em São Bernardo do Campo, meio parecido com o Mão Santa, que trazia sobre uma prótese quebrada, uma folha do romance do Sarney. Até alguns anos atrás, o miseravelmente pobre não tinha tratamento de canal, tampouco restauração. Coitado, só podia arrancar os dentes! Hoje esse depauperado pode fazer tratamento de canal na puta que pariu e restauração na casa do caralho. Além da questão da saúde, os dentes são importantes para a autoestima, sobretudo na hora de procurar uma esquina para ficar feito um palhaço debaixo do semáforo, na frente dos carros, fazendo malabarismo com bolinhas ou engolindo fogo. O brasileiro é bom para fazer malabarismo. Esse dom parece que já nasce com a pessoa, acho que a coisa vem de berço. Outro dia, me deparei com um rapaz, aqui na porta do Palácio da Alvorada, muito vagamente esse mancebo me lembrou o Renan Calheiros, tentando enfiar três bananas no olho do cu com o pé esquerdo. Isso seria fácil, não fosse pelo fato dele ter uma venda nos olhos. Por essas coisas todas, criamos o “Brasil Sorridente”, formado por Centros de Especialidades Odontológicas, os Laboratórios de Prótese Dentária e as Equipes de Saúde Bucal. O município interessado solicita a implantação dos centros e cede o terreno. O Governo federal fornece os equipamentos e recursos para as obras e avisa o pessoal do MST. Após a invasão, perdão, após a implantação, o município ou o Estado passam a receber repasses federais e operam as unidades. Operam tanto que as unidades acabam morrendo na UTI. Hoje já existem 675 CEO’s em 574 municípios, mas só 2 funcionam. Já são 18.305 Equipes de Saúde Bucal no País a cata de desdentados e banguelas. Entre janeiro de 2005 e setembro de 2008, foram realizados 17 milhões de procedimentos nos CEO’s. Duvido que o companheiro encontre um cidadão sem dente ai pelas ruas. Pode procurar com todas as lamparinas do seu juízo. Vendo a Boariza se alguém me apontar um caraminguado, um só, com uma cárie ou uma obturação mal feita. Desde 2003, deixaram de ser arrancados mais de 3 milhões de dentes. E sabe por quê? Porque os profissionais dos CEO’s, todos formados em Camamú, nos cafundós da Bahia, não encontraram nenhum dente. Em Curitiba, onde você mora, existem 143 Equipes de Saúde Bucal, 3 CEO’s, 2 equipados com laboratórios, 1 inferno e 1 purgatório juntos, funcionando dia e noite. Para o prezado companheiro se informar sobre o programa (caso queira fazer um programa), ligue para o 080000000000-61111111111997777777777, do Mistério da Saúde. Lado outro, se necessitar de informações mais detalhadas, tente a Secretaria Municipal de Saúde. Se conseguir falar, por favor, me avise.

CASA PRÓPRIA PARA GOZO DE ALÉM TÚMULO

Ricardo Roendo Osso da Silva, 70 anos, desempregado de Mogi das Cruzes (SP)

Já que os juros estão caindo, por que não revisar os financiamentos em andamento para a compra da casa própria, para reduzir o valor das prestações para milhares de famílias?

Presidente Fula – O Governo tem reduzido o custo dos financiamentos da casa própria para as famílias de baixa renda por meio de subsídios, que são até mais vantajosos que a redução dos juros. Se a sua mulher tem renda, notadamente na calcinha, mande que ela arranque a peça, fique de quatro, e se posicione com o rabo virado para a porta. Os subsídios vão aparecer como que caídos do céu. Devo lembrar que o Governo não pode alterar unilateralmente as condições de contratos de financiamentos em hipóteses nenhuma. No caso da Habitação de Interesse Social, reduzir as taxas de juros implicaria em uma infamante e vergonhosa inversão de papéis, ou seja, o Sistema de Habitação botaria na bunda do Governo com força, até os colhões, o que não seria um bom negócio, sem mencionar que se abatesse as taxas de juros, implicaria reduzir igualmente as taxas que são pagas aos que possuem contas do FGTS. Por isso, a opção pela política dos subsídios ser a única viável dentro do inviável mais ou menos viável. Os subsídios entram sem que se perceba e quando o cidadão se dá conta, tem um abacaxi de todo tamanho enfiado até a goela. Um bom exemplo é o Programa “Minha Casa, Minha Vida”, para a construção de 1 milhão de moradias populares na Lua e em Marte. Famílias que ganham até três salários mínimos pagarão pela moradia apenas 10% da renda, durante 1000 anos. Ou seja, não desembolsarão um centavo de juros, concorrerão, apenas com uma pequena parte do valor do imóvel e o restante será subsidiado pela NASA, que fará a mudança desse pessoal com todos os seus cacarecos, para um desses planetas, levando, é claro, as famílias beneficiadas em ônibus espaciais de última geração. Trocado em miúdos, cada família receberá as chaves da sua casa própria um dia após ter baixado com os costados na sepultura. Basta que aquele membro da família que conseguir sobreviver, prove que seu ente querido foi enterrado como indigente. Para as famílias com renda entre três e seis salários mínimos, a taxa será de apenas 5% ao ano. Além disso, essa ralé contará com um subsídio extra: na prática funcionará desta forma. Assim que fizer a prova cabal de que a sua mulher está literalmente com o cano de descarga virado para a porta, pronta para entrar no ferro, o marido receberá um volume especial pelo correio, que poderá chegar, dependendo das gracinhas que ela improvisar com uma vara bem grande e grossa atolada na boca, a patamares de até R$ 23 mil.

EXPORTAÇÃO DE FRANGAS COM FEIÇÕES SUÍNAS

Catulo Balança Pende Pru’m Lado Só, 29 anos, coveiro de sepulturas para defuntos de Três Irmãos, (RJ)

Peço seu empenho para acelerarmos a abertura do mercado internacional para a carne de frangas brasileiras. Produzimos um excelente produto. Só a China tem potencial para importar toda nossa produção.

Presidente Fula – Em relação ao setor de carne de franga, o Brasil está marcando um gol atrás do outro. Só no último, se não me engano, foram chutados 151 para as cucuias, com aeronave e tudo. Em 2003, os EUA eram líderes em exportação e o Brasil ocupava o segundo lugar. Em 2004, nosso País tornou-se o maior exportador do produto e se mantém na liderança até hoje. Basta você assistir ao “Big Brother” e, agora, mais recentemente, o “No Limite”, para se convencer que as nossas frangas são as melhores do planeta, principalmente em matéria de bundas e peitos. Uma das razões do sucesso é que, além da competitividade brasileira, houve uma acirrada diversificação dos destinos das exportações. Em 2003, 124 países eram importadores do produto brasileiro, e, em 2008, esse número chegou a 143. Como pode perceber, as nossas frangas estão rodando o mundo e, logo, até Bin Laden estará se curvando às regalias de nossas granjas. Essa ampliação, acredito, seja fruto da ação governamental eficiente quanto aos acordos e disputas comerciais. Eu disse dis putas, e não dez putas. Recentemente, a China abriu as pernas e do meio delas, surgiu um mercado que, para o Brasil em questão de dias primou pelos resultados excepcionais alcançados. Em junho, enviamos aquele país, 373, 5 toneladas de carne de franga virgem, sem gonorréia, com todas as pregas do cu em dia e o melhor de tudo, sem problemas de HIV. Um crescimento de 401% sobre o mês anterior e de 423% sobre o mesmo mês de 2008. Com a abertura bem arreganhada do mercado chinês, agora, é que nenhum país conseguirá tirar a liderança do Brasil. Afinal de contas, frangas e putas são como políticos corruptos aqui na Capital deste Brasil Maravilhoso. Acredite companheiro, nasce uma franga com feições suínas a cada espirro que se dá no Senado.

(*) Aparecido Raimundo de Souza é jornalista
O PRESIDENTE RESPONDE
Parte 1

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Mande suas perguntas por e-mail picadura@botonocudospobresradioetelevisao.com.br ou por carta. Rua Mesmo Que Tu Não Abra Eu Enfio nº 171 Anexo II Mirante da Torre de Televisão Brasília DF.

TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SEM DENTISTA
Carlos Cu Largo, 40 anos, trabalhador braçal sem os braços de Curitiba (PR)

Em propaganda que o elegeu o senhor anunciou que o Programa “Brasil Sorridente” seria um serviço odontológico com várias especializações. Em Curitiba, percorri vários postos e todos negaram a existência do serviço. Como posso beneficiar-me desse projeto?

Presidente Fula – Companheiro, eu cansei de ver crianças de 10 e 12 anos já sem os dentes. Vi inclusive, rapazes de 17 anos sem boca, procurando uma, nem que fosse de fumo. No lugar da boca desses jovens, vi panelas imensas, verdadeiras crateras, algumas delas maiores até que o rombo da Previdência. Tinha um rapazola, em São Bernardo do Campo, meio parecido com o Mão Santa, que trazia sobre uma prótese quebrada, uma folha do romance do Sarney. Até alguns anos atrás, o miseravelmente pobre não tinha tratamento de canal, tampouco restauração. Coitado, só podia arrancar os dentes! Hoje esse depauperado pode fazer tratamento de canal na puta que pariu e restauração na casa do caralho. Além da questão da saúde, os dentes são importantes para a autoestima, sobretudo na hora de procurar uma esquina para ficar feito um palhaço debaixo do semáforo, na frente dos carros, fazendo malabarismo com bolinhas ou engolindo fogo. O brasileiro é bom para fazer malabarismo. Esse dom parece que já nasce com a pessoa, acho que a coisa vem de berço. Outro dia, me deparei com um rapaz, aqui na porta do Palácio da Alvorada, muito vagamente esse mancebo me lembrou o Renan Calheiros, tentando enfiar três bananas no olho do cu com o pé esquerdo. Isso seria fácil, não fosse pelo fato dele ter uma venda nos olhos. Por essas coisas todas, criamos o “Brasil Sorridente”, formado por Centros de Especialidades Odontológicas, os Laboratórios de Prótese Dentária e as Equipes de Saúde Bucal. O município interessado solicita a implantação dos centros e cede o terreno. O Governo federal fornece os equipamentos e recursos para as obras e avisa o pessoal do MST. Após a invasão, perdão, após a implantação, o município ou o Estado passam a receber repasses federais e operam as unidades. Operam tanto que as unidades acabam morrendo na UTI. Hoje já existem 675 CEO’s em 574 municípios, mas só 2 funcionam. Já são 18.305 Equipes de Saúde Bucal no País a cata de desdentados e banguelas. Entre janeiro de 2005 e setembro de 2008, foram realizados 17 milhões de procedimentos nos CEO’s. Duvido que o companheiro encontre um cidadão sem dente ai pelas ruas. Pode procurar com todas as lamparinas do seu juízo. Vendo a Boariza se alguém me apontar um caraminguado, um só, com uma cárie ou uma obturação mal feita. Desde 2003, deixaram de ser arrancados mais de 3 milhões de dentes. E sabe por quê? Porque os profissionais dos CEO’s, todos formados em Camamú, nos cafundós da Bahia, não encontraram nenhum dente. Em Curitiba, onde você mora, existem 143 Equipes de Saúde Bucal, 3 CEO’s, 2 equipados com laboratórios, 1 inferno e 1 purgatório juntos, funcionando dia e noite. Para o prezado companheiro se informar sobre o programa (caso queira fazer um programa), ligue para o 080000000000-61111111111997777777777, do Mistério da Saúde. Lado outro, se necessitar de informações mais detalhadas, tente a Secretaria Municipal de Saúde. Se conseguir falar, por favor, me avise.

CASA PRÓPRIA PARA GOZO DE ALÉM TÚMULO

Ricardo Roendo Osso da Silva, 70 anos, desempregado de Mogi das Cruzes (SP)

Já que os juros estão caindo, por que não revisar os financiamentos em andamento para a compra da casa própria, para reduzir o valor das prestações para milhares de famílias?

Presidente Fula – O Governo tem reduzido o custo dos financiamentos da casa própria para as famílias de baixa renda por meio de subsídios, que são até mais vantajosos que a redução dos juros. Se a sua mulher tem renda, notadamente na calcinha, mande que ela arranque a peça, fique de quatro, e se posicione com o rabo virado para a porta. Os subsídios vão aparecer como que caídos do céu. Devo lembrar que o Governo não pode alterar unilateralmente as condições de contratos de financiamentos em hipóteses nenhuma. No caso da Habitação de Interesse Social, reduzir as taxas de juros implicaria em uma infamante e vergonhosa inversão de papéis, ou seja, o Sistema de Habitação botaria na bunda do Governo com força, até os colhões, o que não seria um bom negócio, sem mencionar que se abatesse as taxas de juros, implicaria reduzir igualmente as taxas que são pagas aos que possuem contas do FGTS. Por isso, a opção pela política dos subsídios ser a única viável dentro do inviável mais ou menos viável. Os subsídios entram sem que se perceba e quando o cidadão se dá conta, tem um abacaxi de todo tamanho enfiado até a goela. Um bom exemplo é o Programa “Minha Casa, Minha Vida”, para a construção de 1 milhão de moradias populares na Lua e em Marte. Famílias que ganham até três salários mínimos pagarão pela moradia apenas 10% da renda, durante 1000 anos. Ou seja, não desembolsarão um centavo de juros, concorrerão, apenas com uma pequena parte do valor do imóvel e o restante será subsidiado pela NASA, que fará a mudança desse pessoal com todos os seus cacarecos, para um desses planetas, levando, é claro, as famílias beneficiadas em ônibus espaciais de última geração. Trocado em miúdos, cada família receberá as chaves da sua casa própria um dia após ter baixado com os costados na sepultura. Basta que aquele membro da família que conseguir sobreviver, prove que seu ente querido foi enterrado como indigente. Para as famílias com renda entre três e seis salários mínimos, a taxa será de apenas 5% ao ano. Além disso, essa ralé contará com um subsídio extra: na prática funcionará desta forma. Assim que fizer a prova cabal de que a sua mulher está literalmente com o cano de descarga virado para a porta, pronta para entrar no ferro, o marido receberá um volume especial pelo correio, que poderá chegar, dependendo das gracinhas que ela improvisar com uma vara bem grande e grossa atolada na boca, a patamares de até R$ 23 mil.

EXPORTAÇÃO DE FRANGAS COM FEIÇÕES SUÍNAS

Catulo Balança Pende Pru’m Lado Só, 29 anos, coveiro de sepulturas para defuntos de Três Irmãos, (RJ)

Peço seu empenho para acelerarmos a abertura do mercado internacional para a carne de frangas brasileiras. Produzimos um excelente produto. Só a China tem potencial para importar toda nossa produção.

Presidente Fula – Em relação ao setor de carne de franga, o Brasil está marcando um gol atrás do outro. Só no último, se não me engano, foram chutados 151 para as cucuias, com aeronave e tudo. Em 2003, os EUA eram líderes em exportação e o Brasil ocupava o segundo lugar. Em 2004, nosso País tornou-se o maior exportador do produto e se mantém na liderança até hoje. Basta você assistir ao “Big Brother” e, agora, mais recentemente, o “No Limite”, para se convencer que as nossas frangas são as melhores do planeta, principalmente em matéria de bundas e peitos. Uma das razões do sucesso é que, além da competitividade brasileira, houve uma acirrada diversificação dos destinos das exportações. Em 2003, 124 países eram importadores do produto brasileiro, e, em 2008, esse número chegou a 143. Como pode perceber, as nossas frangas estão rodando o mundo e, logo, até Bin Laden estará se curvando às regalias de nossas granjas. Essa ampliação, acredito, seja fruto da ação governamental eficiente quanto aos acordos e disputas comerciais. Eu disse dis putas, e não dez putas. Recentemente, a China abriu as pernas e do meio delas, surgiu um mercado que, para o Brasil em questão de dias primou pelos resultados excepcionais alcançados. Em junho, enviamos aquele país, 373, 5 toneladas de carne de franga virgem, sem gonorréia, com todas as pregas do cu em dia e o melhor de tudo, sem problemas de HIV. Um crescimento de 401% sobre o mês anterior e de 423% sobre o mesmo mês de 2008. Com a abertura bem arreganhada do mercado chinês, agora, é que nenhum país conseguirá tirar a liderança do Brasil. Afinal de contas, frangas e putas são como políticos corruptos aqui na Capital deste Brasil Maravilhoso. Acredite companheiro, nasce uma franga com feições suínas a cada espirro que se dá no Senado.

(*) Aparecido Raimundo de Souza é jornalista
Praia da Costa, Vila Velha 25 de agosto de 2009.

"GENTILEZAS".

Gentilezas

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.


“...Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta...”
Com certeza foram os vândalos. Essa turma de garotos desocupados que andam por ai, pela calada da noite, pichando as paredes das casas, as portas dos comerciantes, as entradas e saídas das residências. Foram, sem dúvida alguma, esses delinqüentes recalcados que vivem à margem da sociedade, em busca de um mundo que não existe. Os mesmos que fumam craque, que cheiram cola de sapateiro, que vendem buchas de maconha. Talvez os mesmos que estão acostumados a apertar o gatilho de uma arma de fogo e sem mais nem menos tirar, por trinta moedas de prata, a vida de um ser humano.
“...Nós que passamos apressados
pelas ruas da cidade
merecemos ler as letras
e as palavras de gentileza...”
Naquele muro enorme defronte a casa onde moro, alguém havia escrito um poema. Não de Neruda, ou de Quintana, tampouco de Vinícius ou Drumonnd, mas de um desconhecido. Com certeza de um ser solitário que ama a vida e dela procura tirar o que há de melhor.
“...Há algo sempre em ti que me provoca
E me apaixona como adolescente,
Paixão febril, loucura inconseqüente
Que no âmago do amor perene toca.

No mundo do carinho estou carente
Como a ave sem ovos, que não choca,
E sôfrego, meu sangue se empipoca
Nas convulsões do sexo e da mente.

Meu membro vibra ao tato das tuas coxas,
As minhas veias tingem-se de roxas,
E o meu tesão deságua-se precoce;

E não consigo conseguir-te orgasmo,
Te quero em demasia, vão pleonasmo,
Num gozo que te roubo sem ter posse...” (*)
Pois é! Apagaram tudo. Destruíram, danificaram, tiraram do muro enorme aquelas palavras bonitas que faziam a gente crescer por dentro, que embalava nossos sonhos, e que nos fazia pisar em estrelas, voar muito além da imaginação alcançada pelos olhos. Não sei porque. Pintaram tudo de cinza. Estraçalharam as gentilezas que um poeta, mais que um poeta, um profeta havia deixado para nós, “nós que passamos apressados”, por essa rua, por aquela outra, enfim, pelos becos, guetos e vias dessa cidade enorme, disforme, agitada, conturbada, cheia de mistérios e dissabores. Apesar da tinta, eu lembro:
“... Minha primeira palavra
Foi um Ah...!
Não porque tivesse nascido,
Mas porque havia ficado
Em silêncio por muito tempo...”
Marisa Monte tem razão quando canta, mais que canta, encanta:
“...Nós que passamos apressados
pelas ruas da cidade
merecemos ler as letras
e as palavras de gentileza...”
Não há dúvidas. Essas palavras ficaram presas no vai e vem do pincel. As gentilezas do pensador anônimo estão cobertas de tinta. O muro branco, enorme, ficou vazio, mudo, tristonho, coberto de tinta. Pintaram tudo de cinza. Todavia, ainda assim, e sobretudo, o que no muro estava escrito, não se apagou da minha mente. E certamente não se apagará, jamais, daquelas que igual a mim buscam no amanhã um porvir melhor. Mesmo que no frio da imensa solidão hibernal, cujo vento cortante congela narizes orelhas e lábios, ainda assim há de prevalecer o bom senso das pessoas sensatas e de espírito tranqüilizador.
Não tenho, bem sei, como saber quem destruiu o cartão postal que havia no muro. Quem apagou o “faça o amor, não a guerra” e o “dê uma chance à Paz!”, deixando em seu lugar um lençol de lama cinza como a esconder o rastro dos que passaram às carreiras, temerosos de serem descobertos por alguém que amava cada palavra que ali estava escrita. Mas em mim vão permanecer gravadas a fogo:
“...O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o profeta...”
O mundo é uma escola. Esses infelizes que pintaram o muro de cinza, palhaços rindo de si mesmos, diante da estupidez a que estão presos, ficarão boquiabertos diante das cicatrizes abertas em suas testas. Obras deles. Muitos se ferirão. Outros se arrependerão das loucuras, não só das loucuras, mas igualmente das dores e dos anseios daqueles que passaram e continuarão passando diante do muro coberto de cinza, à espera das gentilezas que antes embelezavam a vida e o coração de quem simplesmente caminhava, por ali, despreocupado, e parava, extasiado, boquiaberto, diante do muro.

(*) Momento musical: Mariza Monte CD Gentileza
(**) (Há Algo Sempre Em Ti que Me Provoca de Jorge Tannuri, in “Sonetos Fesceninos”).